Estou em uma fase mais calma, mais feliz. Continuo com pouco tempo, mas estou tão contente com minha nova vida. Engraçado, mas estou realmente em uma nova vida. Sinto como se tivesse vivido tudo que vivi e agora retornei ao exato ponto de onde comecei. É estranho, porém me é muito verdadeiro. Voltei, simplesmente voltei, se eu fosse datar, diria que estou vivendo tudo que deixei de viver, que estou no ano de 1983. Agora estou terminando o segundo grau e indo fazer uma faculdade. Agora piloto uma bicicleta linda, encantadora; vivo as aventuras de ser uma ciclista no meio de tantos carros senhores absolutos, vivo a minha soberania, meus sonhos de hippie naturalista, defensora do mundo. Caminho de cabeça erguida, como se caminhasse em uma passarela. Vejo-me constantemente bajulando-me. Percebo que tenho orgulho de ser quem sou. Pego-me tirando o chapéu para mim, ou seja, congratulando-me por existir.
Continuo sem nenhum tipo de segurança material, continuo nada tendo, mas isto me confere uma leveza, uma liberdade. Meio contraditório, pois é difícil imaginar alguém livre tendo que produzir para se sustentar, entretanto, sinto-me como um lírio do campo.
Tenho que cuidar da casa e das muitas pessoas que lá moram, mas faço tudo com amor e dedicação. Vejo-me totalmente sem tempo para muitas coisas, mas ao mesmo tempo, fico contente por estar fazendo a minha parte. Estou cuidando da minha sogra com todo amor do mundo. Dedico a ela um amor especial, um tributo à vida. Vejo nela a luta e a indignação de todas as mulheres. Ainda tenho que domar a fera que mora dentro da minha filha, que não aceita a avó. Porém, nem isto me deixa menos decidida. Tenho fé que minha filha entenderá a avó. Perceberá que o que ela não aprova na avó é o que ela também tem dentro dela. É insuportável conviver com os próprios defeitos.
Algo mágico aconteceu em minha vida. Eu a recebi de volta, simplesmente voltei. Voltei a ser a Elisa que sempre fui, mas que ficou sufocada no meio de muitos entulhos, no meio de muitos deveria, muitas cobranças inadequadas, que eu escolhi viver. Sim, aceitar que escolhi viver tudo que vivi coloca-me dona de mim mesma. Sou a única responsável por mim mesma.
Descobri ainda que não venci, fui uma grande perdedora, mas mesmo assim, fico agradecida pela experiência. Saber perder também requer aprendizado.
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