Corria o ano de 1973 e eu contava seis anos. Foi nessa época
que descobri o significado da morte, Eu estava na hora do recreio no colégio e
estava reunida com algumas amigas de turma. Elas narravam até com certa
vantagem e importância o fato de terem perdido pessoas para a morte. Eu
escutava com atenção e espanto. Não me ocorria nenhum caso para contar, muito
menos compreendia bem aquele tema tão apaixonadamente discutido.
Lembro-me bem das amigas que participavam de tão diferente
conferencia: Jussara tinha uma personalidade forte, fazia valer sua opinião e
tinha muita presença. Angela vivia com a
avó, também já mostrava personalidade forte, sempre muito determinada e
destemida. A Andréia já era mais recatada, assim como eu, tinha pais protetores
e isso trazia certa discrição de expressão. Não posso afirmar, mas creio que eu
era mais reflexiva, falava pouco e observava muito.
O assunto foi se desenrolando e eu de certo sentia quase uma
inveja por não ter nada e ninguém para acrescentar ao tão mórbido tema. No
entanto, fui convocada a expor quem a morte já havia me tomado. Um tanto quanto
constrangida, disse que em minha família nunca havia morrido ninguém. Essa afirmação
deixou todas um tanto quanto surpresas e desconfiadas. De certo é mesmo muito
estranho uma pessoa ser poupada por tão solene autoridade.
Quando voltei para casa corri à minha mãe para solicitar
esclarecimentos sobre a morte e os entes por ela ceifados. Minha mãe,
espirituosa que é, foi logo descartando o assunto e agradecendo por não haver
quem acrescentar à tão virtuosa lista. Explicou-me que só pessoas muito velhas
é que adquiriam óbito. E foi dizendo-me para ir brincar. Minha mãe sempre foi muito prática, pouco se
prende aos detalhes e limita-se a avançar nas ideias e assuntos. Logo,
mandar-me brincar foi uma solução que surtiu um bom efeito.
Caso eu tivesse perguntado ao meu pai, muito provavelmente
receberia uma explicação com fundo mais filosófico. Meu pai sempre foi mais
atento às emoções e ideias que norteiam o meio. Mesmo porque ele já havia
perdido e muito para a morte e aqueles que perdem entes queridos são sempre
mais sensíveis e são capazes de expor a ferida que parece que nunca se fecha.
O tempo passou, passou lentamente e enquanto o
tempo transcorria eu ia aprendendo sutilezas do dom da vida. Nesse ínterim tive
o privilégio de conhecer uma alma sublime, era a dona Amélia, uma senhora
bondosa e cheia de lindas histórias para contar. Ela era minha vizinha e assim
eu podia ir lá quantas vezes eu desejasse ir. E eu ia muitas e muitas vezes,
pois ir à casa da dona Amélia era como adentrar em um mundo singular de
profunda beleza. A casa era ... Quer ler mais? Posso enviar por e-mail. Sentir-me ei honrada caso queira ler. Gratidão!
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