Ler sempre foi um desejo ardente que consumia minha alma de criança.
Estranho desejo, nem saberia dizer de onde surgiu.
Nasci em uma época em que livro não era assim tão comum.
Talvez o berço do qual venho não tivesse livros assim tão disponíveis.
Olhando agora, percebo uma grande diferença.
Hoje os livros estão em todos os lugares.
Gosto muito disso.
Mas, naquela época, lembro-me de ver um livro.
E eu nem sabia ler.
Perguntei e descobri: A Escrava Isaura, de Bernado Guimarães.
Não saber ler foi uma barreira para aquele livro, mas não um limite.
Insisti e insisti muito.
Conseguia juntar as vogais com as consoantes,
mas as palavras que se formavam não faziam um sentido literário.
Aos seis anos, enfim, consegui minha vaga na escola.
Agora as palavras que se formavam faziam sentido.
E tive o privilégio de poder ler: A Ilha perdida de Maria José Dupré.
Foi o fato mais fantástico que aconteceu naquela época para mim.
Acredito que foi ali que criei o hábito de ler e
levar os personagens para conviver com a minha família.
Depois ganhei de presente um livro lindo:
Emília no País da Gramática, do Monteiro Lobato.
Entretanto, livros infantis não eram ofertados assim.
Mas, quando brota o gosto pela leitura, todo e qualquer livro é sempre bem vindo.
E apaixonei-me por Camões, Os Lusíadas;
Khalil Gilbran, que era moda naquele tempo.
Cecília Meireles, Vinícius de Moraes entre tantos outros poetas;
Ruth Rocha com seu encantador Marcelo, Marmelo, Martelo.
O Menino do Dedo Verde do Maurice Druon.
Assim fui caminhando, encontrando livros e encantando-me com cada nova leitura.
Ler é muito mais que um prazer, é uma terapia;
Uma viagem no tempo e no espaço.
Ler é colorir a vida.
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