Pular para o conteúdo principal

Não sou gente, nem bicho, sou bruxa

Não nasci para ser escritora. Nasci para ser audaciosa e corajosa. Não que para isto haja necessidade de grandes atitudes. Coragem para ser eu mesma ou simplesmente falar com quem admiro. Neste ponto, sou autora de grandes covardias. Sabia que jamais falo com escritores? Devido à esta fraqueza, perdi duas ricas oportunidades. A primeira faz tanto tempo que sou capaz de classificá-la como de outra vida. Claro que há tantas outras vidas inseridas em meu histórico. Óbvio, pois não sou gente, nem bicho, sou bruxa. Como tal, tenho mais de trezentos anos. Que é pouco, pois meu passe é de quinhentos anos.Como ia dizendo, tentei falar com uma jovem escritora. Havia lido seu livro e encantado com sua audácia. Soube que ela estava em minha cidade, em uma festa, para autografar seus livros. Fiquei andando em círculos, durante o dia e a noite toda. E não encontrei coragem para falar com a autora. Perdi, fiquei com os pés cansados e voltei para casa desapontada comigo mesmo.O fracasso foi tão intenso que passei tantas outras vidas sem ao menos tentar conversar com qualquer outro escritor. Lia, mas não falava com escritores. Quando aqui cheguei, achei a Terra muito densa. Acostumada ao éter, aqui não era capaz de flutuar. Com o tempo criei um jeito de fugir das dificuldades de ser terráquea. Voei para o mundo da imaginação e deletei a vivência do corpo denso.. Ao negar o corpo, este criou couraças. Arquivou os sentimentos em grossas camadas protetoras. Comprometeu partes essenciais para uma verdadeira existência. Até os óculos receberam um belíssimo par de lentes cor de rosa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Livro da Bruxa

Ganhei, hoje, um livro da Valéria, O Livro da Bruxa. Olha, é da bruxa mesmo. Veja bem, aqui em casa o carteiro não entrega as cartas. Tanto é que só recebi minha correspondência de dezembro no meados de janeiro. Então ela disse-me que receberia o correio, contei-lhe a saga das cartas daqui e disse-lhe que resgataria a correspondência na agência dos correios. Hoje ela avisou-me que deveria ter chego, mal terminei de ler o e-mail e o livro chegou. Estou fascinada lendo-o. Devorando-o Amei a bruxa, amei, amei e amei.

Valores

Veja bem, já tenho 43 anos, só agora irei formar-me, ainda não tenho casa própria, carro, tenho carteira, mas medo de dirigir. Enfim, tenho uma lista de vários fatores que a sociedade considera importante e que não alcancei. E daí? Sinto-me tão importante. Veja a cena: Trabalho, melhor, sou estagiária da Secretaria de Ensino a Distância. Sou tutora do curso de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas. Terça feira será feriado municipal. Segunda-feira foi considerado ponto facultativo pela faculdade, portanto, todos os tutores não têm aula, mas temos que trabalhar. Então assumi a missão de ir até ao diretor pedir para dispensar-nos. Neste dia fui com uma sandália que não era usada há tempos. No meio do caminho a sandália desmanchou literalmente. Por onde eu passava, deixava restos da sandália. Caminhava com dificuldade, pois ela estava partida em vários tamanhos diferentes. Melhor dizer, mancava. Cheguei, encontrei com a moça do escritório e perguntei qual era o ramal do diretor; liguei,